21 de Abril de 2011
Temos a mesma profissão, a mesma paixão, a mesma ética e o mesmo mau feitio. Mas acho que foi o mesmo carácter que nos aproximou e o mesmo sentido de humor que nos manteve cúmplices ao longo dos anos. Hoje dei-te a mão e fiz-te rir enquanto os químicos entravam no cateter para matar o que voltou a aparecer. Não me morras, não? Vê se te aguentas. Eu sei que já estás farta e que muitas vezes é isso que te passa pela cabeça. E que depois do que já passaste, era para já tudo ter acabado. Mas vê se te aguentas. Já te cortaram, já fizeste quimio, radio, já te disseram que estavas curada. Depois o Manuel. No pulmão. E mais quimio. E tu sempre com ele. Cheia de força. E agora isto. Mais um TAC e metástases sei lá por onde.
Não me morras, não? Vê se te aguentas. Eu vou contigo. Seguro-te a mão e faço-te rir.

5.5.13

mãe

Lembro-me de tudo, sabes? Do teu cheiro, da tua pele, dos teus olhos verdes pintalgados de castanho, da tua voz, dos teus conselhos sábios, dos teus cuidados comigo, das nossas gargalhadas cúmplices que ninguém entendia. Às vezes ainda me afundo no teu pescoço e cubro-te de beijos. Depois lembro-me que dizias já chega e eu a achar que eram sempre poucos. Devia ter-te dado mais. Ter-te dito mais vezes o quanto gosto de ti, o quanto te admiro, o quanto te amo. A falta que me fazes. A falta que sinto da tua voz, do teu cheiro, das tuas palavras, de me rir contigo. Não consigo rir-me assim com ninguém. Bastar uma expressão, um canto da boca torcido, um olhar, para desatar a rir sem parar. Lembro-me de tudo, sabes? Muito de mim és tu.

[À minha mãe, a primeira mulher que conheci e a que mais amei.]

Feliz Dia da Mãe


Para ti, minha querida,
uma das melhores mães que eu conheço.