21 de Abril de 2011
Temos a mesma profissão, a mesma paixão, a mesma ética e o mesmo mau feitio. Mas acho que foi o mesmo carácter que nos aproximou e o mesmo sentido de humor que nos manteve cúmplices ao longo dos anos. Hoje dei-te a mão e fiz-te rir enquanto os químicos entravam no cateter para matar o que voltou a aparecer. Não me morras, não? Vê se te aguentas. Eu sei que já estás farta e que muitas vezes é isso que te passa pela cabeça. E que depois do que já passaste, era para já tudo ter acabado. Mas vê se te aguentas. Já te cortaram, já fizeste quimio, radio, já te disseram que estavas curada. Depois o Manuel. No pulmão. E mais quimio. E tu sempre com ele. Cheia de força. E agora isto. Mais um TAC e metástases sei lá por onde.
Não me morras, não? Vê se te aguentas. Eu vou contigo. Seguro-te a mão e faço-te rir.

9.3.13

o teu cheiro

O teu cheiro, mãe. Tenho saudades do teu cheiro. Da tua pele, do teu pescoço, das tuas mãos a apertar as minhas, das tuas pernas que eu massajava com aquele creme de laranja que tu adoravas. Foi esse creme que te passei na cara e nas mãos quando me despedi de ti, foi com esse cheiro que te despediste de mim. Esse cheiro que se confundia contigo e que tu identificavas comigo. Foi a cheirar a laranja que respiraste baixinho, devagar, a largar a vida, a dispensar este mundo, a soltar o último suspiro. Tenho saudades do teu cheiro, mãe. De me afogar no teu pescoço, de fechar os olhos, de te encher de beijos, de te ouvir dizer já chega. Tenho saudades da tua voz a chamar por mim, dos teus olhos verdes pintalgados de castanho, das nossas gargalhadas cúmplices que ninguém entendia. O teu cheiro, mãe. Tenho saudades do teu cheiro.


[À minha mãe, no dia em que faz precisamente dois anos que partiu, a cheirar a laranja.]

8.3.13

Dia Internacional da Mulher


Para ti, minha querida, uma das mulheres mais fantásticas que conheço.
Um exemplo.